No último dia 16 de junho, uma reunião na sede da B3 abordou a estruturação de um mercado de investimentos estratégicos para a indústria mineradora no Brasil, seguindo o modelo adotado pelo Canadá e Austrália.
O objetivo principal dessa iniciativa é viabilizar o financiamento de projetos de pesquisa mineral.
A Rede Invest Mining, coordenada pela ABPM, foi a responsável por promover esse encontro, que contou com a participação da Ígnea Geologia & Meio Ambiente, além de representantes da B3, BNDES, Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Mineração (ANM), Associação dos Diretores de Mineração do Brasil (ADIMB), Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), fundos de investimento, plataformas de operações financeiras, consultorias, escritórios de advocacia e empresas do setor.
Estratégias discutidas envolvem listagem de empresas, restrições regulatórias e incentivos fiscais
Durante a reunião, foram discutidos os principais aspectos para a estruturação desse mercado de risco no país, incluindo os processos de listagem de empresas de mineração em operação, que poderiam ser iniciados com a possibilidade de Dual Listing, assim como a definição de uma sistemática para a listagem de empresas em fase pré-operacional.
Além disso, foram abordadas potenciais restrições regulatórias, com o intuito de avaliar a necessidade de normatização de novos procedimentos junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Também foram discutidas estratégias para a atuação de operadores de venture capital no mercado, bem como a importância de iniciar discussões com o governo para a adoção de incentivos fiscais voltados à pesquisa mineral.
Leonardo Barbosa, representante da B3, ressaltou a necessidade de evolução da agenda da mineração no mercado de capitais no Brasil, fazendo uma comparação com o setor agropecuário.
Ele destacou que, em uma oferta pública inicial (IPO), cerca de 70% dos investimentos são direcionados ao financiamento das atividades das empresas.
Barbosa também traçou um panorama sobre os investidores envolvidos nas ofertas de ações.
“Na fase pré-operacional, o risco é maior, o que torna o investimento menos acessível ao público em geral. A alternativa dependerá da disposição do investidor em assumir o risco de falha ou não”, afirmou Barbosa.
Ele também ressaltou a importância de elaborar um acordo para o preparo das empresas.
“Esse processo envolve a criação de valor, que deve ser construído nos dois anos que antecedem o IPO. Uma alternativa viável seria começar com CRs”, avaliou Barbosa.
Luiz Maurício Azevedo, presidente da ABPM, enfatizou durante o encontro a relevância dessa iniciativa, destacando que ela pode facilitar a listagem de empresas em fase pré-operacional no país.
Azevedo também mencionou a necessidade de criar um “Fast Track” para a realização de Dual Listing em diferentes bolsas, além de considerar oportuno discutir com o governo brasileiro formas de incentivar a pesquisa mineral.
O presidente da ABPM mencionou o programa “flow-through shares” adotado no Canadá como um incentivo fiscal destinado ao financiamento do setor mineral, visando à capitalização de empresas que atuam em exploração ou desenvolvimento mineral, com isenção de pagamento de impostos de renda, semelhante ao que ocorre no Brasil com a Previdência.
“Em 2006, cerca de 6% dos investimentos globais eram destinados à pesquisa mineral no Canadá. Com a introdução do programa ‘flow-through shares’, esse percentual saltou para algo entre 18% e 22%”, alertou,
destacando que, historicamente, o Brasil tem destinado apenas 3% dos investimentos globais à pesquisa mineral.
Exemplo do Canadá: programa fiscal flow-through shares impulsiona investimentos em pesquisa mineral
Pedro Dias, representante do BNDES, discorreu sobre a experiência do banco em apoiar o setor e ressaltou a relevância do contexto atual, considerando a transição energética.
Ele destacou que a demanda por fertilizantes pode contribuir para a estruturação de mecanismos de investimento em pesquisa mineral voltados para minerais críticos, os quais, em sua opinião, determinarão o caminho dessa transição energética.
Para Miguel Nery, Coordenador da Rede Invest Mining, o momento é propício para uma iniciativa como essa, especialmente porque o Brasil está prestes a recuperar o grau de investimento reconhecido internacionalmente.
Além disso, o setor mineral possui um mercado potencialmente atrativo e dinâmico, podendo se tornar altamente competitivo em comparação com outros países que já possuem bolsas de venture capital voltadas para a mineração, conforme destacado por Nery.
Fonte: Comunicação – ABPM